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Suicídio: o que leva uma pessoa a tirar sua própria vida?


Na visão psicanalítica, o suicídio é visto, em parte, como um episódio onde a pulsão de morte prevalece em relação à pulsão de vida, havendo uma luta constante entre a vida e a morte, onde a última acaba prevalecendo. Segundo Freud (1920), é necessário que exista um equilíbrio entre as duas pulsões, onde a pulsão de morte continuaria conectada a serviço da vida, agindo em um movimento paralelo.

Segundo a Agência das Nações Unidas ,a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. O país com mais mortes é a Índia e, o Brasil, ocupa o 8º lugar nesse rancking, com mais suicídios no mundo.

Quais seriam as causas?

A sociedade tem o hábito de pensar na vida aparente do sujeito e assim “julgá-lo”, quando, na realidade, o motivo que o leva a realizar tal ato vai muito além.

As causas vão sendo acumuladas durante todo um processo na vida desse sujeito, como familiares, sociais, biológicos, psicológicos, entre tantas outras coisas. A dor que esse sujeito trás de estados emocionais negativos como culpa, vergonha, desespero, angústia, solidão, acompanhados de ideias de morte, na finalidade de dar fim a esses sentimentos insuportáveis, devem ser investigados e observados, pois são acúmulos de traumas, de problemas variados onde o sujeito não consegue mais encontrar uma saída, a não ser, acabando com a própria vida.

Freud compreendeu que o adoecimento de seus pacientes resultava da dificuldade em lidar com os próprios desejos. Para o autor (1893-1895):

“Toda vivência que suscita os penosos afetos de pavor, angústia, vergonha, dor psíquica, pode atuar como trauma psíquico; se isso de fato acontece depende, compreensivelmente, da sensibilidade da pessoa afetada (assim como de uma condição a ser mencionada mais tarde). Não raro, se encontram na histeria comum, em vez de um único grande trauma, vários traumas parciais, causas agrupadas, que apenas se somando puderam manifestar efeito traumático, e que formam um conjunto por serem, em parte, componentes de uma única história sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos de sofrimento.” (pág. 22)

Sinais de alerta ao suicídio

O sujeito que pensa em suicidar-se dá sim, sinais como um pedido de socorro, o que, quase sempre, não é percebido pelos que os rodeiam.

  • Normalmente se sente desesperançoso e não acredita que haja outro modo de aliviar a dor, que não seja a morte;

  • Descreve uma sensação de pensamentos vagos que dificulta a concentração;

  • Vê a vida como algo sem significado ou se julga incapaz de controlá-la;

  • Sofre de níveis altos de ansiedade e irritabilidade freqüentes;

  • Falta de energia geral e comportamentos como ficar na cama o dia inteiro;

  • Dize que consegue mais ver solução para o seu problema;

  • Está com algum problema, às vezes, pra outros sem motivo. Luto, separação, muita pressão psicológica, relacionamento, entre outros.

  • Está num estado de tristeza, chora, falta de apetite, etc.

Vale ressaltar que não são todos os casos de depressão que irão levar a pessoa a se suicidar, mas a depressão severa continua sendo a maior causa do suicídio.

Observando esses pontos, converse com essa pessoa, diretamente, sem rodeios, porém, com cautela.

Deve-se evitar alguns tipos de comentário, evitando piorar a situação. Certas coisas que você diz na intenção de ajudar a pessoa, podem aumentar a culpa ou vergonha dela, tais como:

  • “Temos que agradecer, há situações piores”.

  • “Amanhã é outro dia. Tudo ficará bem”.

  • “Você tem uma família linda”.

  • “Não se preocupe, tudo vai ficar bem”.

  • “Você é uma pessoa religiosa, não se entrega”.

  • “Eu já me senti sobrecarregado e sobrevivi”.

  • ​ “Você não tem motivo pra pensar assim”.

  • “Por que está assim? Sua vida é perfeita”.

  • “Tem gente com problemas piores que você”.

  • “Isso não é de Deus”.

  • “Seja forte”.

É muito importante estar presente na vida do sujeito, dar-lhe uma devida atenção, mostrar que é amado, que é importante. Muitas vezes, a prevenção de um suicídio é questão de dias, horas, ou questão de minutos, portanto, quanto mais cedo a pessoa receber a ajuda necessária, melhor.

A maioria dos suicidas não contam os seus planos para os outros, nem todos exibem sinais óbvios ou comportamentos de risco. Na verdade, 25% das vítimas de suicídio não demonstram nenhum sinal significativo.

Se o sujeito está exibindo algum dos sinais de alerta, não espere que as coisas piorem para buscar ajuda.Não espere uma pessoa chegar e dizer "Eu quero me matar". É de grande relevância observar bem se passaram por traumas extremos, histórico de abusos, de uso de drogas ou de doenças mentais para poder perceber o menor dos sinais.

Um profissional qualificado pode prevenir um suicídio e salvar uma vida.

Um suicida, ao contrário do que imaginamos, não quer acabar com a vida. Ele quer acabar com o que o incomoda; aliviar a dor que tanto o sufoca e ele não consegue expressar, claramente, o que sente. Acredita que ninguém pode ajudar, porque ainda não encontrou a pessoa que consiga se comunicar, que o faça enxergar o caminho certo a percorrer, que o ajude a se libertar de suas prisões e a lidar com seus desejos, com a sua situação. Dias (1991), diz que: "O suicida, no ato de sua morte, está liberado para falar, revelar segredos, expressar sentimentos com intensidade, etc. Pode-se, então, concluir que todo suicídio é uma maneira de comunicação com os outros que se dá através da morte do sujeito. A morte para estas pessoas significa o canal possível de contato, uma expressão drástica de emoções” (p. 135-136).

“Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbidos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não desamparados. Somos abatidos, mas não destruídos. (...) Assim em nós opera a morte, e em vós a vida.” (II Cor 4, 8s-12)

Padre Zezinho, na sua infinita sabedoria, nos diz muito através das suas músicas e, em uma delas, ele diz que Deus põe, diante de nós, a vida e a morte,mas temos que saber escolher.Se escolhes matar, também morrerá. Se deixas viver, também viverás. Então viva e deixa viver.

Referências Bibliográficas:

DIAS, Maria Luiza. Suicídio: Testemunhas de Adeus. São Paulo: Brasiliense, 1991.

FREUD, Sigmund (1920). Além do princípio do prazer. ESB, Vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1980.

(1995) A psicoterapia da Histeria. In: BREUER, J.; FREUD, S. (1895). Estudos sobre a histeria. In: FREUD, S. (ESB) v. 2. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

https://nacoesunidas.org/oms-suicidio-e-responsavel-por-uma-morte-a-cada-40-segundos-no-mundo/

Mayra Amorim

Psicanalista Clínica

Membro da Comunidade Renascidos em Pentecostes

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