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Luto: um sofrimento necessário


Geralmente, quando falamos ou ouvimos falar em luto, logo, imaginamos a morte de alguém. Freud (1915) esclarece que o luto é uma reação à perda, não necessariamente de um ente querido, e nem limitado apenas à morte, mas o enfrentamento das sucessivas perdas reais e simbólicas durante o desenvolvimento humano, podendo ser uma viagem planejada, perda do emprego, de um bem material, um sonho que não conseguiu realizar, fim do casamento, namoro etc.

O luto é um processo natural, necessário e fundamental instalado para a elaboração da perda, que pode ser superado após algum tempo, preenchendo o vazio deixado por qualquer perda significativa.

Por mais que tenha um caráter patológico, não é considerado doença. Sendo assim, algumas interferências, mesmo com o intuito de ajudar, tornam-se prejudiciais, como por exemplo:

Você perdeu esse emprego pra conseguir outro melhor”.

“Veja pelo lado bom. Agora, poderá conhecer outros rapazes”.

“Levaram o seu carro, mas graças a Deus, está viva”.

“Tem que ter fé. Agora, ela mora no céu”.

É necessário o sujeito passar por essa dor; sentir e reagir são processos lentos e dolorosos. Chorar, ficar triste, sentir saudade são, também, reações necessárias e fundamentais para a elaboração da perda, que pode ser superada após algum tempo.

No primeiro momento, há uma tendência de negação; parece que não acreditamos no que aconteceu.

Depois vem um sentimento de raiva. Daí, vem os “porquês”! Por que comigo? Por que aconteceu?

Também há o momento no qual o sujeito começa perceber a perda e quer que tudo volte como anteriormente, fazendo “promessas”, em uma espécie de negociação interna: “Deus, vou ser uma pessoa melhor”.

Ou quando aparece o vazio e o sujeito toma consciência de que não adianta, a perda não terá volta, aparece a depressão, tristeza, desolamento, culpa, desesperança.

E, ainda, quando o sujeito se conscientiza e aceita a perda. Assim, o vazio é preenchido, a dor fica mais “compreendida” e começa-se a retornar a vida.

Cada pessoa reage de maneira diferente diante de sua perda e os momentos não seguirão, necessariamente, na ordem descrita acima. Dependerá muito do estado emocional e psicológico de cada um.

É muito importante que o luto seja vivido, sentido e superado. Quando isso não acontece, há uma grande possibilidade do sujeito ficar angustiado e depressivo.

Às vezes, vemos pessoas que não vivem o luto dizendo “ser forte” ou “ter fé”. Porém, com o passar do tempo, as reações aparecem e as consequências podem ser desastrosas. Não se deve incentivar as pessoas enlutadas a abandonar a experiência do luto, pois o sujeito não deixará que a realidade da perda seja vivida e, com isso, poderá deslocar o que está sentindo de forma inconsciente para outros setores da vida.

Dificilmente, a pessoa que experimenta o luto necessita do auxílio de psiquiatras e psicólogos, porque compreende que, por mais difícil que seja lidar com a dor e a perda, eles são necessários para continuar a vida sem o ente querido.

“Pra tudo há um tempo, pra cada coisa, há um momento debaixo dos céus:

Tempo para nascer, e tempo para morrer;

Tempo para chorar, e tempo para rir;

Tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se”. (Ec 3 1-5)

Contudo, Deus nos permite a tristeza e a felicidade, a vida e a morte, tudo ao seu tempo, pois sabemos que esta vida é passageira e o nosso lugar é o céu. E, por mais doloroso que seja, devemos saber ganhar e saber perder, amadurecer nossas emoções, atitudes e reações.

Referências:

Bíblia Ave Maria

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917 [1915]). In: A história do Movimento Psicanalítico, Artigos sobre a Metapsicologia e outros trabalhos (1914- 1916). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV, Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Mayra Amorim

Psicanalista Clínica

Comunidade Renascidos em Pentecostes

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