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Dificuldades e Transtornos de Aprendizagem

Existem muitas crianças que não aprendem o conteúdo escolar conforme o esperado para a idade. Quem nunca ouviu falar de crianças que chegam ao 5º ano do Ensino Fundamental sem saber ler e/ou escrever?


Tais crianças existem e precisam ser ajudadas, não julgadas; afinal, infelizmente, muitas pessoas - incluindo os próprios pais - humilham a criança chamando-a de burra, preguiçosa e desinteressada, por exemplo. Precisamos, porém, entender que nem sempre é uma questão de mero desinteresse da criança, mas sim um fator muito mais profundo que requer atenção e intervenção.


A criança pode ter uma dificuldade e/ou um transtorno de aprendizagem.


Embora muitos os tratem como sinônimos, dificuldade e transtorno de aprendizagem são coisas diferentes. Quero aqui falar um pouco destes dois problemas para que você pai, mãe, responsável, professor e/ou interessado pela educação possa intervir na vida de um educando de maneira assertiva.

O que é um Transtorno de Aprendizagem?

Os transtornos (ou distúrbios) de aprendizagem se referem ao “(...) funcionamento biológico do indivíduo. Não se trata de doenças - portanto, não há cura -, mas, de condições do indivíduo” (Farias, E. 2019). Logo, uma criança que tem transtorno de aprendizagem tem uma condição específica, isto é, a formação do seu cérebro - a maneira de processar o pensamento - está diferente do chamado “normal” ou padrão.

É importante compreender que o nosso cérebro é maleável, isto é, conforme exercícios que formos fazendo, podemos ir diminuindo os efeitos destes distúrbios e, como acontece com frequência, vive-se de maneira normal.


Precisamos ficar atentos aos nossos filhos, afinal pode ser que eles não tenham aprendido a ler na idade certa não por preguiça, mas sim por ter algum transtorno de aprendizagem que o impede de compreender o alfabeto e seus sons.


Entre os principais transtornos de aprendizagem estão: DEL (Distúrbio Específico da Linguagem), dislalia (dificuldade de articular palavras), dislexia (dificuldade na codificação e decodificação de palavras), discalculia (não compreende os processos matemáticos de cálculo). Também é bom citar outros transtornos que se relacionam com a aprendizagem de alguma forma, tais como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), sendo este último muito recorrente impedindo o aluno de aprender pelo alto nível de distração, fazendo com que não assimile o conteúdo.


Mas nem tudo é transtorno de aprendizagem. Às vezes o cérebro da criança é normal, logo ela tem apenas uma dificuldade de aprendizagem, que é diferente de transtorno ou distúrbio.


O que é uma dificuldade de aprendizagem?


Esta dificuldade tem “(...) caráter provisório e referem-se a alguns tipos de desordem que interferem no ritmo e no tempo de aprendizagem” (Ibid). Ora, enquanto no distúrbio o problema está dentro da pessoa, isto é, no cérebro, aqui o problema é externo, normalmente o ambiente. Vamos aos exemplos para ficar claro!


As dificuldades de aprendizagem podem ser:


Excesso de videogame, celulares e/ou demais aparelhos eletrônicos: às vezes a criança não tem TDAH, mas somente hiperestimulação cerebral por aparelhos eletrônicos. Uma criança com dependência tecnológica certamente não terá estímulo (motivação) para estudar. Não adianta levar em um profissional se você não cortar o videogame, por exemplo. Os danos destes aparelhos na infância são enormes, merece até um artigo futuro aqui.


Didática: às vezes o problema não é a criança, mas a maneira com que o professor ou outra pessoa ensina. Para servir de exemplo, cito minha prima de cerca de oito anos que não estava compreendendo de forma alguma a noção de divisão. Seu pai, estudante de engenharia, tentava colocar na cabeça dela como era a divisão, mas nada de surtir efeito. Eu simplesmente tomei a palavra, peguei algumas frutas que haviam na mesa, dividi entre nós e fui fazendo perguntas envolvendo a matemática das quantidades ali presentes. Compreendeu. Por que? Porque quanto mais nova for a criança, mais ela demandará de materiais concretos para aprender a matemática. Ela não tinha discalculia, era apenas uma dificuldade pelo método que estava sendo usado com ela.

Ambientes barulhentos: infelizmente até mesmo as escolas são barulhentas pelo excesso de alunos juntamente com o mal comportamento de alguns. Mas às vezes isso afeta a criança em casa. Não dá para o aluno estudar se na casa tem constantes brigas.


Problemas emocionais: embora possa ser confundido com distúrbios, lembremos que o distúrbio tem caráter permanente. Há alguns problemas emocionais que em regra são temporários. Um exemplo é a criança que vive o drama do divórcio dos pais. Já tive aluno que baixava o rendimento e se apresentava triste quando o pai prometia levá-los para sua casa no fim de semana, porém não apareciam. Observe: não é distúrbio, mas é uma dificuldade emocional que precisa ser trabalhada para não prejudicar o aluno.

Enfim, se você tem um(a) filho(a) que não consegue aprender direito, busque observar atentamente seu comportamento e, o mais indicado, leve-o(a) em um profissional para um melhor diagnóstico e uma melhor intervenção pedagógica. Até porque as dificuldades e distúrbios aqui apresentados são apenas alguns dos tantos que existem.


Autor: Professor Anderson Carlos Bezerra

Formação: Licenciado em Pedagogia e Especialista em NeuroPsicopedagogia.

Atuação: Professor atuante nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental pela SEDF.

Bibliografia

FARIAS E. Distúrbios e Dificuldades de aprendizagem. Intersaberes. Curitiba, 2019.

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