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Volta às aulas presenciais em meio à pandemia: devo ou não deixar que meus filhos voltem?

Acerca de toda a situação que o mundo presencia atualmente, ficamos a questionar: quando tudo isso passará? Até lá, continuaremos com os cuidados e as precauções necessárias para evitar o contágio e o aumento de casos pela COVID -19 e zelar pela nossa saúde e de nossos familiares.


Mas logo, vem outra pergunta: e quanto a volta às aulas? Devo ou não levar meus filhos à escola, mesmo sabendo que o risco ainda é eminente? O que devo fazer? Criança não contrai a doença?


Muitos pais já tomaram sua decisão. Uns se negam a deixar seus filhos irem à escola; outros; arriscarão mandar seu bem maior às aulas presenciais.


Mesmo que as escolas, numa força tarefa com toda equipe diretiva, resvalem de todas as precauções e cuidados, obedecendo aos protocolos de higienização a fim de evitar a proliferação e, subsequentemente a contaminação dos alunos e profissionais de ensino, isso não basta para ficarmos tranquilos.


Eu sou professora há 28 anos na área de magistério e imagino a cena de retorno às aulas: a meninada correndo com saudades dos colegas, da tia (e saibam: eles estão com saudades da professora) , da vontade de contar as novidades, de correr pelo pátio, voltar às brincadeiras de pique- pega, pique- alto, futebol, queimada, de boneca com as colegas, de compartilhar um novo brinquedo, um jogo de canetinhas novo...


Ah! E o lanche??? Crianças compartilham tudo! O suco, o pedaço do sanduíche, o salgadinho, a pipoca feita em casa que a mãe preparou e colocou num potinho e, como ninguém resiste à pipoca, quer provar um pouquinho também?


E a professora? Recusará um abraço caloroso e saudoso de seus aluninhos? Não aceitará um pedaço do lanche? Deverá ser fria e dizer: “Não, obrigada! Estou de dieta”! Como será complicado!


Na escola, todos estarão de máscara. Mas até quando as crianças permanecerão com elas? Oxalá, não sejam trocadas umas com as outras por figurinhas, pirulitos, por uma outra mais bonita, esquecer ou perdê-la.


E aos adolescentes? São tão próximos! Mais próximos que as crianças. Andam colados uns aos outros, compartilham gargalhadas findadas com abraço ou aperto de mão. Não se cumprimentam sem se tocarem. Dividirão a latinha de refrigerante ou o milk-shake no final da aula, enquanto aguardam, na parada, o ônibus lotado de volta para casa.


E a professora? Imagine- a usar por 4 ou até 5 horas uma máscara a ser trocada a cada duas horas, precisando atender a seu aluno individualmente, mas e o protocolo pede distanciamento? Como será o distanciamento com salas de aulas lotadas?

Como será a recepção? O recreio? As atividades coletivas não acontecerão? E aos alunos suscetíveis ao risco de contágio, por exemplo, os nossos alunos com necessidades especiais? E aos próprios professores que são do grupo de risco? E as merendeiras, servidores da limpeza, da portaria, da direção? Mesmo não sendo do grupo de risco, têm familiares que os são.


É sabido que tudo requer cautela, planejamento. E como todo planejamento é flexível, a liberação para a volta às aulas não será a melhor estratégia.

Mas podem me questionar: qual o problema? Meu filho vai ao mercado e nunca teve nada? Por que não pode ir à escola?


Acontece que escola não é supermercado! Os sentimentos e emoções não estão em uma prateleira! A amizade está no abraço, no aperto de mão, na bola de futebol chutada e agarrada com as mãos suadas e devolvida às outras mãozinhas e pés.

Na escola está o presente de uma humanidade que descobrirá na cautela e no distanciamento por conta de um vírus, o futuro de uma sociedade sadia, curada e consciente que o cuidado consigo mesmo, refletirá no cuidado ao próximo.




(Karla Regina Martins Moreira, professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, formada em Pedagogia – Séries Iniciais pela Universidade Católica de Brasília, pós-graduada em Neuropsicopedagogia Clínica pela Faculdade CENSUPEG em Santa Catarina, serva na Pastoral da Liturgia da Paróquia São Pedro desde agosto de 2011)

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